Exchanges descentralizadas ganham espaço em 2024
Enquanto as exchanges centralizadas apanharam firme entre abril e julho, seus pares descentralizados seguraram legal o volume. Relativamente falando. Você vai entender.
As exchanges descentralizadas (DEX) registraram US$ 179 bilhões em volume negociado em agosto, que representa uma queda de 9%. Enquanto isso, as exchanges centralizadas cresceram 8% no mesmo período.
“Deu ruim, Pelica? DEX tá indo de Vasco então?” Olha, não. Na real, as coisas estão até indo bem. Venha dar uma olhada nisso comigo. No final tem opiniões de especialistas, inclusive de um personagem de anime. É sério!
Ah, só pra esclarecer: nesse texto estamos falando de volume do mercado spot. Derivativos são um animal diferente e a gente já falou um pouco do crescimento das perp DEX nesse texto.
Suba na motoquinha e venha dar uma voltinha.
Um ano legal
Vamos colocar em perspectiva o ano de 2024 para as exchanges descentralizadas, comparando com os anos anteriores. Em março deste ano, as DEX bateram recorde de volume negociado, atingindo mais de US$ 267 bilhões em volume mensal.
O recorde anterior era de quase US$ 238 bilhões registrados em novembro de 2021, no pico do último bull run.
Ah, vale ressaltar também que as DEX não registraram volumes abaixo de US$ 150 bilhões desde março também. Já são seis meses consecutivos acima desse patamar de volume, o que também é um recorde. O último foi de quatro meses consecutivos, entre outubro de 2021 e janeiro de 2022.
E aqui vai algo legal: na curta história das finanças descentralizadas (DeFi), só 11 meses ultrapassaram US$ 150 bilhões em volume negociado, e seis deles são justamente os meses que compõem esse tremzinho de 2024.
O meu ponto é: as DEX nunca estiveram tão bem em volume spot quanto no período atual.
“Mas só com volume negociado não dá pra dizer, Pelica!” Concordo. Mais uma vez, vamos botar as coisas em perspectiva.
DEX to CEX ratio
Uma das minhas métricas preferidas em cripto é o DEX to CEX ratio, que basicamente é a proporção de volume que as exchanges descentralizadas representam em comparação com seus pares centralizados.
Ou seja: qual o tamanho do volume das DEX comparando com as exchanges centralizadas (CEX). Eu vou chamar de “Proporção DEX para CEX”, mas vocês sabem que é a mesma coisa do termo em inglês que eu coloquei ali.
Se liguem nesse gráfico aqui que o The Block tem na área de dados deles. Ele trata, justamente, dessa proporção que eu mencionei acima:
Em julho, que o último pico da direita ali, a gente teve o terceiro maior volume do ano e o maior percentual da Proporção DEX para CEX desde maio de 2023. Em julho, as DEX representaram praticamente 14% de todo o volume negociado em
Além disso, observem como a proporção volta a subir a partir de abril. Enquanto o volume das CEX cai, o volume das DEX se mantém.
Ao meu ver, isso pinta uma figura que é mais ou menos assim: DeFi criou uma base de usuários sólida que, mesmo quando o varejão sai das plataformas centralizadas, ela continua negociando em exchanges descentralizadas.
Um exemplo disso é o mês de março desse ano. Foi o recorde em volume negociado, lembram? Pois é, também foi o mês com maior volume negociado nas exchanges centralizadas desde novembro de 2021.
Naquele mês, a Proporção DEX para CEX bateu o segundo ponto mais baixo de 2024. Ou seja: quando o mercado tá animado, provavelmente com a entrada de capital especulativo novo por um curto período de tempo, é complicado bater as plataformas centralizadas. Os dois mercados não crescem na mesma proporção.
Apesar da disparidade, as DEX apanharam bem menos que as CEX em queda quando o capital novo saiu logo do mercado, algo que começou a acontecer entre março e abril.
E por capital novo eu nem digo necessariamente novos investidores do varejo, mas ppde ser o pessoal de cripto que não tava querendo fazer trade, por exemplo.
Mas só isso também não basta. Vamos chamar o VAR e ver as variações de volume mês a mês.
Abril: CEX encolhem 36%, DEX encolhem 26,3%;
Maio: CEX encolhem 23%, DEX encolhem 11%;
Junho: CEX encolhem 10,6%, DEX encolhem 10,3%;
Julho: CEX crescem 2%, DEX crescem 24,3%;
Agosto: CEX crescem 8%, DEX encolhem 8,7%;
Tirando agosto, que foi justamente quando as CEX recuperaram um pouco do terreno conquistado, os meses após março mostraram as DEX apanhando menos em termos de volume perdido.
Sim, o recorte é muito específico, mas é justamente esse o meu ponto: esse comportamento é novo. Tudo que eu falei pode ser invalidado se as exchanges descentralizadas pararem de apanhar menos/crescer mais do que as plataformas centralizadas.
De qualquer forma, é um movimento do mercado que vale a pena ser observado. E pra ajudar no tom, pedi a ajuda de uma figura conhecida do mercado cripto.
SURPRESA!
Jabazinho da melhor qualidade e rapidinho: quem é Modular PRO troca ideias como essa direto lá, tá?
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Opinião de quem importa
Bom, eu juntei um monte de números e concluí o que parecia fazer sentido pra mim. Mas o lance é que a gente precisa ouvir quem vivencia isso todos os dias.
JOJO é uma das maiores exchanges descentralizadas para negociação de derivativos da Base, sempre brigando pela liderança com a Syn Futures. O co-fundador e CEO, que se identifica como Jotaro Kujo, resolveu me dar uma força nesse artigo.
A força é: por que parece que as exchanges descentralizadas estão ganhando um público mais fiel?
Na opinião dele, esse crescimento no volume tem a ver com um aumento na confiança que os usuários têm nas plataformas descentralizadas e o potencial delas. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de negociar sem deixar a custódia dos ativos nas mãos de um terceiro também tem um apelo forte para o público que investe em cripto.
“Diferente das exchanges centralizadas, as DEX reduzem o risco de hacks e uso indevido dos fundos, já que eles não fazem a custódia durante o processo de negociação. Além disso, as plataformas descentralizadas também oferecem um leque maior de tokens e produtos financeiros inovadores que não estão disponíveis nas exchanges centralizadas.”
Ele também ressaltou que os seis meses consecutivos de volume acima de US$ 150 bilhões também não são pouca coisa. De fato, isso serve como um sinal de que usuários estão comprando a ideia de que as DEX estão se tornando mais robustas, amigáveis aos usuários e integradas ao sistema financeiro.
Ele também falou sobre as DEX apanharem menos em volume que as plataformas centralizadas nos últimos meses. Na visão do Jotaro, isso pode indicar não só um interesse no que DeFi oferece, mas também um comprometimento com os princípios desse setor.
Não apenas isso, mas a base fiel de usuários que tá se formando pode incluir uma galera que é mais cabeçuda quando o papo é cripto.
“Conforme a tecnologia das DEX continua evoluindo e mais usuários experienciam seus benefícios na prática, podemos estar diante de uma migração em direção a essas plataformas descentralizadas, o que pode realmente se concretizar em uma base leal de usuários no longo prazo.”
E esses foram os insights que o meu manão Jotaro compartilhou. Eu falei, porém, em opiniões. Pois é, plural, mais de um.
Quem também fortaleceu dando a visão de insider foi o Guilherme Bettanin, co-fundador e CEO da Zaros.fi.
A Zaros é também uma perp DEX, mas fundada por brasileiros, que tá fazendo um trabalho super bacana ao incluir o uso de tokens de staking líquido em sua arquitetura. Grandes players da indústria, como o Cointelegraph, também acham isso, tanto que até incluíram a Zaros no programa de aceleração deles.
A visão do Guilherme se alinha bastante com o que o Jotaro comentou, já que ele defende que um misto de melhorias na experiência do usuário e um interesse em fugir de opções centralizadas dentro do mercado cripto motivaram esse crescimento nos volumes das DEX.
Como melhorias na experiência do usuário, o Guilherme elencou account abstraction e transações sem taxas de gas. De fato, esse tipo de desenvolvimento torna a experiência de negociar em uma DEX muito mais familiar ao usuário que só negociou em exchanges centralizadas.
Agora, na parte sobre as DEX segurarem a barra nos volumes enquanto as plataformas centralizadas sangravam mais, o CEO da Zaros ressaltou que acredita bastante no trabalho que os builders sérios vêm fazendo para aumentar a confiança dos usuários, e avalia que esse trabalho tem gerado resultados, mas isso teve mais a ver com o novo fluxo de usuários no mercado.
“O período entre abril e julho foi marcado por condições duras no mercado, e esses novos investidores não estão acostumados a segurar ativos em face deste alto nível de volatilidade.”
Ou seja, como as plataformas centralizadas representam uma porta de entrada mais simples, é de lá que o volume maior sai quando as coisas desandam.
E esses foram os insights, galera. Como deu pra perceber, os números e o sentimento dos builders apontam para um futuro promissor se desenhando para as DEX, e é possível que ele não demore a se concretizar.
Agora, desce da motoca.
Excelente artigo Gino, parabéns!!!