Irresponsáveis on-chain e o crescimento das Perp DEX
Degenerados impulsionam a adoção de plataformas descentralizadas para negociação de derivativos.
O mercado de derivativos é o bife na marmita do mercado de criptomoedas, e os números tornam isso evidente. Nas últimas 24 horas, o mercado spot movimentou US$ 12,1 bilhões na Binance, enquanto o mercado de derivativos movimentou quase US$ 45 bilhões no mesmo período dentro da exchange.
Em alguns casos, tipo a OKX, essa diferença é ainda mais significativa: são quase US$ 20 bilhões de derivativos movimentados em um dia contra US$ 1,6 bilhão no mercado spot.
No setor das exchanges descentralizadas de derivativos, que eu vou chamar de Perp DEX a partir de agora, a coisa tem melhorado desde setembro do ano passado. No DefiLlama fica bem bonitinho, parecendo uma escadinha até março.
Desde março, porém, os volumes começaram a cair (que nem uma escadinha também). No texto dessa semana, vamos avaliar o crescimento e a queda desses volumes, comparar com o tamanho das plataformas centralizadas e ver o que ainda falta para as Perp DEX.
Hoje o texto é para os irresponsáveis. Agora é aquele momento, degen: SUBA NA MOTO SEM MAIS PERGUNTAS!
Derivativo de quem, meu amigo?
Antes de começar a nossa volta de Hornet por toda a comunidade, é preciso esclarecer o que diabos são esses derivativos.
Como o nome sugere, derivativos são produtos derivados de um ativo. Derivativos de criptomoedas são, então, produtos financeiros que usam as criptomoedas como base. Eu vou considerar aqui os seguintes derivativos: opções, futuros e perpétuos.
Não vou explicar aqui o que são eles, mas sabe onde você pode saber mais sobre esses derivativos?
LÁ NO DISCORD DA MODULAR!
A Modular Crypto abriu seu próprio servidor no Discord na semana passada e já tá lotando de gente. É gratuito, degen. Você pode colar lá, dar um salve e ficar trocando ideia com os maiores mete bala desse mercado. Se quiser, eu vou te dar uma colher de chá e te explicar lá o que são esses três diferentes derivativos, é só você clicar nesse link aqui.
Inclusive, se você quiser ir além, nós temos a área Modular Pro. É nela que o bicho pega e ninguém vê: callzinha de arbitragem, macetinho de airdrop, yield hunting e tudo mais. O negócio é lindo.
Jabá feito, bora voltar para o passeio.
A escadinha sobe graças aos irresponsáveis
Vamos começar falando de números rechonchudos. Entre setembro de 2023 e março de 2024, onde a gente consegue ver a escadinha subindo, o volume de derivativos negociados on-chain cresceu 850%. Foi em março desse ano, inclusive, que furamos a barreira dos US$ 300 bilhões em volume mensal nas Perp DEX.
Nessa escadinha, quem se destacou foi a Hyperliquid, que é “um livro de ordens totalmente on-chain para negociação de perpétuos”, de acordo com os documentos oficiais deles. A Hyperliquid se manteve consistentemente entre as cinco redes com maior volume negociado nesse período, e quase passou a Arbitrum em março. Até hoje, ela segue sendo relevante no setor de Perp DEX.
Foi também em março que uma nova rede relevante surgiu para o ecossistema de derivativos on-chain: a Blast. Lotada de Perp DEX e com uma ambiciosa campanha de airdrop em curso, essa blockchain de segunda camada do Ethereum não demorou para capturar um volume forte.
Entre março e abril, o volume de Perp DEX da Blast cresceu 305%, superando os US$ 49 bilhões. Em maio, o volume passou dos US$ 51 bilhões, e a Blast assumiu a dianteira do mercado desde então.
Foi a partir de abril, no entanto, que a escadinha começou a descer. Antes de falar sobre os motivos, vou falar de uma outra blockchain que ganhou relevância nesse setor de derivativos on-chain durante a descida: a Base. Apesar de não mostrar tanta força quanto Arbitrum, Blast ou Hyperliquid, a Base tá entre as 10 redes com maiores volumes negociados de derivativos desde maio.
Por que subiu?
Trocando uma ideia com a Rachel Lin, da SynFutures, e com o Jotaro Kujo, da JOJO, ambos listaram como primeiro motivo por trás da subida o momento do mercado. Parece que foi há milênios atrás, mas o Bitcoin registrou uma nova máxima histórica em março e, até maio, as coisas tavam indo bem.
Isso favoreceu o crescimento da atividade on-chain e, consequentemente, as Perp DEX capturaram isso.
“Mas Pelica, por que não rolou antes?” Bom, ainda de acordo com ambos, a sofisticação das plataformas descentralizadas para negociação de derivativos deu uma forcinha. Ah, e claro, as campanhas de airdrop chegaram com o impulso final que faltava pra terminar de levar os volumes negociados on-chain até patamares que não tinham sido vistos antes.
Até que tudo começou a cair.
E por que caiu?
A resposta rápida para essa pergunta é: porque sim. Com os preços caindo, a atividade dos traders também caiu, e isso impactou as métricas on-chain. E isso não se limita apenas às Perp DEX. Se liga nos volumes de futuros negociados em exchanges centralizadas e vê se não rolou o mesmo movimento que aconteceu nos pares descentralizados.
Aliás, as plataformas centralizadas mostraram quedas mais bruscas no mês a mês, como também na diferença entre junho e março. Em porcentagem, o volume de derivativos negociados em plataformas centralizadas caiu 52,7% entre março e junho, contra 35,4% nas Perp DEX.
A Rachel Lin, da SynFutures, ainda acrescentou o fato de que a pressão dos reguladores ao redor do mundo contra o ecossistema de finanças descentralizadas ajudou a empurrar para baixo os volumes das Perp DEX. Ela menciona, por exemplo, o processo da SEC contra a Uniswap. Se não fosse isso, é possível que as quedas fossem ainda mais brandas em comparação às plataformas centralizadas.
Separados por um abismo
Apesar da boa performance das Perp DEX em relação às exchanges centralizadas nesses últimos meses, os valores absolutos ainda são esmagadores. Em março, que foi o melhor mês esse ano para ambas os setores, o volume negociado nas plataformas centralizadas foi 673% maior. Em junho, a diferença foi um pouco menor, só 466%.
Nesse ponto, a lógica é a mesma do mercado spot, onde as exchanges centralizadas seguem dando um pau nos volumes on-chain. O motivo por trás desse efeito no spot é batido: as exchanges centralizadas têm mais liquidez, são mais cômodas e dão mais opções para os usuários.
No mercado de derivativos, a situação é parecida. Mas não é exatamente igual.
O que falta às Perp DEX
Mais uma vez, Rachel Lin e Jotaro Kujo vão me salvar nessa. De acordo com a dona Lin, as Perp DEX ainda têm muito problema para lidar com o slippage quando a liquidez está baixa. Slippage é aquela variação na hora de comprar e vender um ativo, já que há uma distância muito grande entre os valores que os traders estão querendo praticar.
Outro motivo, que afeta também outras aplicações descentralizadas, é o fato de alguns oráculos serem podres e demorarem a atualizar o preço. Em um mercado altamente dinâmico, um delay no preço pode ser a diferença entre ser liquidado ou não.
Um terceiro motivo é a atualização da funding rate, que é a taxa que ancora os preços dos contratos perpétuos ao mercado de varejo, evitando que essa porcaria saia voando sem rumo por aí.
A SynFutures já está endereçando o primeiro problema, enquanto a JOJO já está endereçando o terceiro. Resta, portanto, o segundo.
Mentira. Na verdade, os três problemas ainda estão de pé. Embora a JOJO esteja testando o uso de provas de conhecimento zero (zk proofs) e a SynFutures esteja testando um tomador de mercado automático que unifica a liquidez, ainda não são soluções definitivas.
Ou seja: as Perp DEX ainda precisam resolver esses três grandes problemas se quiserem disputar com as plataformas centralizadas. E, mesmo assim, não é garantia de que a distância em volume negociado diminua de forma super significativa.
É isso. Desça da moto agora, degen. Voltamos na semana que vem.