🔲 Telegram censura apps da TON: o caso que vai impactar todo o mercado
Uma série de cláusulas criam um vínculo de exclusividade entre apps da TON e o Telegram. E isso não é legal. Nada legal.
Bom, recentemente a gente teve uma mudança meio drástica na relação em que o Telegram e a TON têm. Foi incluída uma cláusula de exclusividade para os apps cripto disponibilizados no Telegram.
Essa mudança pode impactar, talvez, o restante do mercado cripto. Ou não.
Bora entender esse assunto. Suba na motoca.
Separados pelos reguladores
Dando um breve contexto: TON e Telegram nunca foram feitos para serem coisas separadas.
Hoje, o nome da TON é “The Open Network”, mas era “Telegram Open Network” no passado. Contudo, problemas regulatórios fizeram com que o Telegram desse para trás e “abrisse” a rede para uma comunidade de pessoas interessadas.
A “comunidade de pessoas interessadas”, logicamente, são pessoas envolvidas com o Telegram. Dadas as devidas proporções, foi o que aconteceu com o Facebook e o projeto de cripto deles: o regulador pressionou e aí só não valia mais a pena.
Com a vitória do Trump nos Estados Unidos, o Telegram manifestou publicamente sua vontade de voltar a olhar para o país, especialmente no que tange a parte de blockchain.
Por isso, Telegram e TON se despiram das aparências e resolveram reatar os laços.
A cláusula de exclusividade
Agora, vamos à cláusula de exclusividade. Basicamente, toda aplicação cripto — chamada de “Crypto Mini App” no ecossistema TON — que for disponibilizada no Telegram precisa ser nativa da TON.
Isso significa que, embora os Mini Apps possam criar formas de absorver liquidez de outras redes — como bridges, não é possível soltar token em outra rede.
Na prática, isso faz com que aplicações que queiram lançar tokens fiquem presas à TON.
A decisão é, no mínimo, esquisita. Por isso, troquei uma ideia com o Tim Delhaes, fundador da carteira Grindery, para entender as razões por trás desse movimento.
Risco de ostracismo
Para Delhaes, o Telegram quer transformar a TON em seu trilho de pagamento. Simplificando: o Telegram quer ser um super app cheio de funções, inclusive pagamentos, e quer processar esses pagamentos por blockchain.
Limitar os apps, então, pode ser uma tentativa de fazer com que a liquidez rodando no ecossistema blockchain do Telegram não vaze.
Faz algum sentido. O número de pessoas que usam cripto paga pagamentos cresceu de 23% para 29% entre 2022 e 2024, segundo uma pesquisa da EY Parthenon publicada em julho do ano passado.
Além disso, é notória toda a movimentação envolvendo stablecoins ultimamente: a Visa criou uma plataforma para ajudar bancos a tokenizar moedas fiduciárias, a Stripe comprou uma empresa de stablecoins, até o presidente dos Estados Unidos criou um protocolo e disse que o objetivo é disseminar o uso de stablecoins.
O ponto é: pagamentos usando blockchain estão chegando rapidamente ao mainstream. E, para o Telegram, criar cláusulas de exclusividade para seus Mini Apps é uma forma de tornar o ecossistema deles mais… único.
O problema disso, segundo Delhaes, é que isso pode fazer com que a galera realmente interessada em construir as coisas fique desinteressada.
Desde que as finanças descentralizadas surgiram, o maior objetivo é conectar diferentes blockchains e fazer a liquidez girar. Ao criar entraves para isso, o Telegram possivelmente tá dando um tiro no próprio pé, na visão do fundador do Grindery.
É possível que, com essa movimentação, apenas apps esquisitos queiram criar coisas na rede para capturar atenção facilmente com um lançamento de token. E aí, depois disso, o projeto morre depois de cumprir esse simples e fútil propósito.
Nas palavras de Delhaes, a TON arrisca cair no ostracismo com essa movimentação.
Na verdade, fica até mais esquisito. A motivação para essa mudança nos termos de serviço é a abertura dos EUA para blockchain e cripto, né? Qual é o sentido de limitar as coisas então?
Bom, vou deixar a própria Fundação TON responder.
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A resposta da TON
Eu fiz uma matéria sobre esse tema para o portal no qual eu trabalho, e peguei uma declaração da TON pra lá.
Um representante da Fundação disse que a mudança vai beneficiar desenvolvedores e usuários. O motivo é:
"Ao integrar a TON como a blockchain exclusiva do ecossistema de Mini Apps do Telegram, o Telegram agora pode fornecer uma solução robusta, confiável e escalável."
No fim das contas, de acordo com a Fundação TON, tudo é uma tentativa de facilitar o onboarding de usuários e desenvolvedores ao padronizar apenas uma rede. Eles ainda disseram que, com isso, a taxa de conversão em usuários e desenvolvedores fidelizados aumenta consideravelmente.
Claro que eu perguntei se eles temiam que isso, na verdade, tivesse o efeito contrário: o êxodo de desenvolvedores.
Eles reiteraram que a experiência unificada do usuário simplificaria a integração de usuários e desenvolvedores.
A Fundação também reforçou que manter o engajamento dos desenvolvedores continua sendo uma prioridade pra eles, pois eles são os principais impulsionadores do crescimento do ecossistema.
Além disso, a Fundação TON declarou que as mudanças estão alinhadas com sua visão de um ecossistema focado em um ambiente contínuo, escalável e fácil de usar para usuários e desenvolvedores.
A real é que, ao meu ver, eles querem fechar o ecossistema com quem eles “podem contar”. Em outras palavras, querem evitar capital mercenário, tipo o que a Treasure fez com a Arbitrum, a coleção DeGods fez com 18 blockchains diferentes, etc.
É possível evitar isso com essas cláusulas? Não, mas né. Isso sou eu especulando.
Grande demais pra falhar?
Voltando ao Delhaes, ele falou que essa decisão da TON pode afastar desenvolvedores pela insegurança que isso causa, comparando o cenário com o ecossistema tech da Web2.
O ponto é: se Telegram e TON mudaram os termos de serviço agora, o que impede que eles mudem no futuro? Não é nada diferente do que a gente já vê as grandes companhias de tecnologia fazendo com usuários e criadores de conteúdo.
Se a Web3 foi criada para evitar isso, fica meio esquisito quando esses padrões seguem sendo repetidos.
O ponto é: ninguém para de usar o YouTube, seja para consumir ou produzir conteúdo, porque a plataforma vive mudando os termos de serviço dos criadores de conteúdo.
E qual o motivo? Bom, existem alguns, mas a questão é que o YouTube é a plataforma de vídeos mais consumida pelo público. E aí, para estar nessa grande vitrine, os produtores de conteúdo se submetem a essa inconstância.
Será que é a mesma coisa do Telegram? Sendo um dos maiores apps de mensagem do mundo, as pessoas deixariam de criar aplicações baseadas em blockchain dentro do ecossistema TON por conta da instabilidade já conhecida da indústria Web2?
Não sei, são perguntas legítimas. Fiz elas para o Tim Delhaes, e ele disse que é difícil prever. Ele ainda acredita mais na tese do ostracismo, mas não ignora a possibilidade do pessoal esquecer o que rolou agora e continuar construindo na TON no futuro.
O que você acha? Responda mentalmente, eu não quero saber.
Resumo da ópera
O caso TON/Telegram já é ruim por si só, mas parece só afetar um ecossistema cripto promissor em um primeiro olhar.
Olhando de novo, no entanto, ele cria um precedente perigoso onde big techs arriscam perpetuar o modelo arbitrário praticado na Web2.
Não que eu seja ingênuo a ponto de achar que as coisas seriam completamente descentralizadas, mas eu não esperava que seriam tão descaradamente centralizadas assim.
Se um dos maiores aplicativos de mensagem do mundo se sente confortável em alterar os termos de uso do nada, por qualquer que seja a justificativa, outras empresas da “Web3” podem se sentir confortáveis em fazer o mesmo.
Não é exagero, então, dizer que esse caso impacta todo o mercado cripto.
Esses eram meus dois centavos. Desça da motoca.