Hoje, a Sky Mavis revelou o próximo passo para o ecossistema Ronin: a Ronin zkEVM. Como o nome sugere, trata-se de uma infraestrutura que possibilita a criação de zk rollups sobre a mainnet da Ronin. Se isso ficou muito técnico para você, basta entender que agora os jogos criados no ecossistema Ronin poderão ter suas próprias blockchains.
Na prática, isso significa que os jogos vão rodar mais “lisos” e poderão oferecer experiências únicas. Isso tudo, porém, não vem sem alguns desafios. Chegaremos neles quando for a hora.
Se você já conhece o ecossistema Ronin, pode pular direto para a parte em que eu começo a falar da Ronin zkEVM. Mas eu agradeceria se você lesse o texto todo, fiz com carinho. Agora, sem mais papo: suba na motoca!
Um enredo de Chanbara
É provável que boa parte dos leitores da newsletter seja composta por otakus fedidos que sabem o que é um ronin. De qualquer forma, eu vou apresentar o conceito: ronin era o nome dado aos samurais sem mestre que habitram o Japão entre o século XII e o século XIX.
Muito se romantizou sobre samurais no cinema japonês na forma dos filmes Chanbara, que é tipo os filmes de faroeste dos Estados Unidos. As histórias costumavam ser sobre samurais que foram “desonrados” e precisam lutar pela redenção, o que geralmente envolvia matar um grupo que criminoso.
A história da Ronin é mais ou menos assim. Quem viveu o ciclo de alta entre 2020 e 2021 se lembra de como foi quando o Axie Infinity explodiu em popularidade: era impossível jogar, porque o servidor dava erro. A Sky Mavis, desenvolvedora do jogo, decidiu então criar uma rede própria para comportar sua rinha digital de baiacus. Foi assim que surgiu a Ronin.
Nosso honrado samurai, no entanto, foi vítima do maior hack da história do mercado cripto. Hackers comprometeram cinco dos nove validadores responsáveis pela segurança da ponte deles, e o resultado foi US$ 624 milhões roubados em 29 de março de 2022. E pior: ninguém notou o sumiço dessa grana por seis dias.
Desonrado, nosso samurai passou a ser tratado com desdém pela comunidade na qual habitava. Afinal, além do hack, Axie Infinity foi de Vasco. O token SLP passou a valer tão pouco que era necessário levar todo o saldo com um trator para comprar um picolé. Exagerei que nem o Akira Kurosawa exagerava nos filmes Chanbara dele.
Tudo isso persistiu por pouco mais de um ano, até que nosso samurai apareceu com seu novo grande ato heróico. Após uma popular rinha de baiacu, a Ronin deu vida ao jogo de fazendinha chamado Pixels.
O arco de redenção
De acordo com um relatório publicado no dia 13 de junho pelo DappRadar, a Ronin foi a rede mais ativa do setor de blockchain gaming em maio, com uma média de 836 mil carteiras únicas ativas diariamente. Pixels, o joguinho de fazendinha que eu falei, bateu quase 23 milhões de carteiras únicas ativas no mesmo mês.
Vou tentar resumir o sucesso de Pixels em uma frase: deu grana pra galera. O modelo “play to airdrop” funcionou, e todo mundo que interagiu decentemente com o joguinho recebeu uma paçoquinha de dinheiro.
“Mas essa história já rolou com o Axie Infinity e o jogo morreu!” Dessa vez é um pouquinho diferente, porque o Pixels é mais legal para os players no geral. Tem o apelo de Stardew Valley, Harvest Moon e afins. Aliás, o Capítulo 2 entra no ar hoje, e promete dar uma experiência de MMORPG ao jogo. Então, embora dar grana para a galera tenha sido o chamariz, o jogo é até legalzinho.
Esses são, contudo, “só” nos números. Na minha carreira de jornalista, parei pra bater um papo com alguns dos times por trás de jogos sendo desenvolvidos na Ronin, como Apeiron e Pixels. Ambos falaram a mesma coisa: construir na Ronin é MUITO BOM.
De acordo com ambos os times, a Ronin dá um suporte absurdo, que vai desde a parte técnica até a parte de marketing e expansão. Seu jogo tá indo bem e você quer dar o próximo passo buscando colaboração? A Ronin ajuda. Não sabe como deixar o tokenomics enxuto? A Ronin ajuda. Não sabe como fechar uma parceria com outro ecossistema de jogos? A Ronin ajuda.
O que eu quero dizer, de forma resumida, é que a Ronin saiu de uma posição desfavorável e hoje se mostra o ecossistema de blockchain gaming com maior popularidade entre usuários.
Depois dessa longa introdução para demonstrar o quão relevante é a Ronin para o setor de joguinhos Web3, vamos à Ronin zkEVM.
Zero-knowledge para todos
O conceito empregado pela Ronin zkEVM não é muito diferente do que a Immutable empregou junto com tecnologia da Polygon. Aliás, a Ronin também está usando o kit de desenvolvimento de blockchain (CDK, na sigla em inglês) da Polygon. Eles vão aplicar o modelo de provas de conhecimento zero, zero-knowledge, ou ZKP, em blockchains de segunda camada que poderão ser criadas sobre a Ronin.
Ou seja: a Ronin vai permitir que aplicações sejam criadas em suas próprias blockchains, que se instalarão em uma segunda camada sobre a mainnet. Essas blockchains de aplicação específica são aquelas que vocês devem conhecer pelo termo “appchains”.
A diferença aqui das relações entre camada 1 (L1) e camada 2 (L2) são os tais dos Governadores. Esse ecossistema da Ronin zkEVM conta com 12 Governadores, que são validadores responsáveis por supervisionar o parquinho. Entre as responsabilidades deles estão gerir os processos de governança e tomada de decisão em relação às atualizações da infraestrutura. Eles tão são os responsáveis por produzirem blocos.
Todas as mudanças devem passar por um processo de votação, que demanda o consenso de pelo menos 75% dos Governadores. São nove deles, se você era fraco de matemática na escola.
Ah, vale ressaltar que esses Governadores funcionam no modelo de DPoS, sigla para prova de participação delegada. Esse modelo consiste nos usuários fazerem o staking de tokens RON e delegarem para os validadores que eles acham dignos.
Quanto ao token de gás para todo esse arranjo, RON ainda vai continuar sendo a moedinha que paga pelas taxas.
As diferentes blockchains de segunda camada criadas através da infra Ronin zkEVM, assim como a mainnet, serão conectadas pela Ronin Bridge. Para evitar que dê zebra de novo, a ponte é protegida por duas camadas de segurança:
A primeira camada envolve a geração de uma prova de conhecimento zero para confirmar que a transação é válida. Essa prova criptográfica garante que todos os detalhes das transações estão corretos;
A segunda camada requer a aprovação de 70% dos operadores da ponte para que uma transação seja processada, e esses operadores são participantes selecionados pela comunidade de stakers de RON.
Trocando uma ideia com o Jeff Zirlin, co-fundador e CGO da Sky Mavis, ele comentou que os estúdios de jogos poderão escolher entre criar aplicações diretamente na mainnet da Ronin, ou criar uma blockchain específica para as aplicações deles nos moldes da Ronin zkEVM.
E aqui a gente entra no principal desafio dessa infraestrutura idealizada pela Sky Mavis.
Tá tudo fragmentado
Quem já utilizou alguma infraestrutura de camada zero sabe como essa experiência pode ser legal e frustrante ao mesmo tempo. Ainda que essas estruturas ofereçam interoperabilidade entre as diferentes redes, parece que são ilhas afastadas umas das outras, e que muitas vezes carecem de liquidez.
Você quer mandar um token de uma rede para outra e simplesmente não tem liquidez. Resta, então, buscar rotas alternativas para fazer o percurso. Enfim, é chatão.
Esse é um problema que analistas já enxergam no futuro do Ethereum, tendo em vista essa quantidade enorme de blockchains de segunda camada sendo criadas, e que também pode afetar a Ronin zkEVM. A galera chama isso de “liquidez fragmentada”.
O Jeff Zirlin já se ligou nisso também, e reconheceu durante a conversa comigo que é um desafio chatinho. Esse desafio é mencionado, inclusive, no documento liberado sobre a Ronin zkEVM.
Resumindo o cerne da questão: apesar de melhorar para os estúdios, que terão suas próprias blockchains para lançar jogos que rodarão mais “lisos”, isso pode empobrecer a experiência do usuário que tentar interagir com diversas blockchains.
O Zirlin também comentou na entrevista, e isso consta nos documentos, sobre a possibilidade de lançar um “cross-chain relayer”. Trata-se de uma ferramenta que automatiza as interações do usuário para chegar no resultado desejado. Por exemplo: se você quer fazer um swap da mainnet com a zkEVM 1, mas só tem liquidez na zkEVM 2 para isso, todo o caminho dos tokens vai ser automatizado pelo relayer sem você precisar se preocupar.
Voltando aos benefícios
Algo importante a ser mencionado também é a possibilidade que a Ronin abre aqui de ser integrada na AggLayer da Polygon e, consequentemente, poder se aproximar de outros ecossistemas de jogos. O fundador do Pixels comentou que tá organizando colaborações com outros ecossistemas na entrevista que fez comigo, mas disse que não pode revelar muitos detalhes. Talvez seja algo relacionado à Ronin zkEVM.
Eu sei, odiar Polygon virou moda que nem odiar os filmes do Adam Sandler. Mas se isso facilita uma colaboração entre Kaidro e Illuvium, por exemplo, não vejo motivos para ver com maus olhos essa movimentação que a Ronin fez utilizando o CDK da Polygon.
Além disso, a criação de appchains é opcional. De forma alguma, portanto, isso obriga os estúdios de jogos a se fragmentar em diferentes redes.
Apesar do desafio de fragmentação, que é comum em todos os ecossistemas blockchain atuais que visam aumentar a eficiência de suas redes, avalio como muito positiva essa implementação feita pela Ronin.
Disclaimer
Antes de terminar, gostaríamos de lembrar que o conteúdo discutido aqui é estritamente informativo e destinado a fomentar a discussão geral. Não deve ser interpretado como recomendação financeira, fiscal ou conselho de vida para qualquer indivíduo. Encorajamos fortemente que você faça sua própria pesquisa e consulte profissionais qualificados.
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