Powell vai cortar, mas o que esperar?
O cenário macro tá todo incerto, e a gente ainda não sabe qual será a profundidade do corte.
Parece que finalmente teremos um corte na taxa básica de juros dos Estados Unidos essa semana. O Jerome Powell, presidente do Fed, finalmente vai passar aquela Tramontina nos números.
É importante ter em mente, porém, que existe a chance de nenhum corte rolar. Mas, para esse texto, eu vou só ignorar essa possibilidade. Como Newsy Johnson sempre nos diz no Twitter: acredite em algo.
O lance é que a gente entra em outro problema: o Powell vai cortar 25 pontos base (bps) ou 50 pontos base? Não sabemos, e isso pode alterar um pouco o rumo das coisas no curto prazo.
Para entender essa zona, eu peguei os insights de alguns analistas do mercado e vou dar um panorama do que pode rolar nessa semana.
Suba na motoca e venha cantando: “EI MOTOTÁXI EU QUERO QUE TU ME LEVA PRO BAILE DE FAVELA PRA DANÇAR A BEÇA!”
Entendendo a dinâmica da taxa de juros
É provável que alguns de vocês sejam que nem o jovem Pelicano entrando no mercado cripto em 2017: eu só queria ganhar alguns trocados e não manjava nada de finanças. Eu sou formado em direito, galera. Sou de humanas!
Por isso, é provável que esse grupo de pessoas fique perdido quando começa essa conversa sobre cortar ou não cortar a taxa de juros. Eu vou resumir pra vocês de uma forma simples. Se você já sabe do que se trata, só pula pro próximo tópico.
A taxa básica de juros impacta diretamente em duas coisas: rentabilidade dos títulos públicos e o “preço” do dinheiro.
Quando um governo emite dívida, é como se ele estivesse pegando seu dinheiro emprestado e te pagando com juros. Sim, você é o agiota do governo. Um agiota meio otário, já que você não pode fazer nada se o governo te der calote. Mas, mesmo assim, um agiota!
Esses juros são calculados levando em consideração a taxa básica de juros. Aqui no Brasil, estamos falando da Selic. Lá no Tio Sam, é só taxa básica mesmo e é isso.
Em outras palavras: quando os juros estão altos, a rentabilidade dos títulos públicos também fica. Guarde essa informação.
Agora, sobre o preço do dinheiro: repare que eu coloquei a palavra preço entre aspas anteriormente. É pra dar ênfase na relação estranha quando a gente fala de preço e dinheiro.
Uma taxa básica de juros deixa o dinheiro caro, ou seja, os juros dos empréstimos que tomamos ficam mais salgados. Como consequência, em menos grana rolando por aí.
Leve as duas coisas em consideração agora. Se a taxa de juros está alta, eu posso ter um rendimento bacana deixando meu dinheiro parado em um ativo seguro, como títulos da dívida pública.
Ao mesmo tempo, não dá pra ficar pegando empréstimo por aí com os juros lá em cima, então tem menos grana disponível no mercado para fazer sacanagem.
“Mas Pelica, eu prefiro é jogar a grana toda na degeneração! Tô nem aí se título público tá pagando só 0,5% a mais por mês!” Eu não vou questionar essa afirmação, porque eu penso assim. O negócio é jogar no Tigrinho!
Essas pequenas diferenças percentuais, no entanto, fazem muita diferença pra quem tá movimentando bilhões. Você tem noção que 0,5% de US$ 1 bilhão equivale a US$ 5 milhões? Pois é. E isso é verdade tanto nos empréstimos quanto nos rendimentos.
É normal, então, que a gente não se importe muito com essas pequenas variações quando consideramos a nossa parca graninha. Mas os figurões que movem o mercado não pensam como a gente!
Resumindo: quando a taxa de juros tá alta, o negócio é colar a bunda na parede e evitar perder dinheiro com a oportunidade que o mercado tá dando.
Isso é verdade também para o caso oposto. Se a taxa de juros tá baixa, o rendimento dos títulos públicos também cai, e aí não vale a pena deixar boa parte do dinheiro parada lá.
Se eu fizer isso, a inflação vai comer tudo e eu vou destruir meu patrimônio em vez de conservá-lo. E aí qual é a outra opção? Com o dinheiro mais barato, o jeito é eu ir apostar no Tigrinho pra compensar a falta de emoção nos títulos mais seguros.
Basicamente, é essa a dinâmica da taxa básica de juros. Quando ela tá alta, não vale a pena correr o risco, o que deixa os ativos de renda fixa mais atraentes; quando a taxa está baixa, contudo, é necessário dar uma diversificada com ativos de risco para fazer o bolo crescer.
Esse é só um exemplo básico para você entender essa dinâmica. Logicamente, existem outras diversas nuances que impactam nisso, fazendo com que os cortes de juros nem sequer sejam “reais” em algumas vezes. Mas, além de eu não ser economista, o texto não é sobre isso.
Eu vou completar com uma informação adicional mais pra frente. Vai lendo, logo a gente já chega lá.
Agora que tiramos as rodinhas da sua bicicleta, bora apertar o passo!
Vai cortar quanto?
Por enquanto, ninguém tem certeza. Aliás, esse é o primeiro evento de corte nas taxas de juros em anos onde há esse nível de incerteza.
Se liga aí como estão as previsões das grandes instituições:
JPMorgan acha que vai cortar 50bps;
Evercore acha que vai cortar 50bps;
Cit acha que vai cortar 25bps;
Goldman Sachs acha que vai cortar 25bps;
Bank of America acha que vai cortar 25bps;
Wells Fargo acha que vai cortar 25bps.
Divididas, né? Tudo bem, tem mais previsão pra 25bps, mas o bizarro é que essas previsões eram do fim da semana que passada. Agora, as chances de um corte de 50bps já passaram as de 25bps.
Temos, então, um cenário diverso e incerto. E isso pode impactar os preços no curto prazo, especialmente nessa semana.
Jabazito!
Amorecos, essa semana tá rolando intensivão de DeFi lá no Discord da Modular. Ah, não vai poder ir?
Sem problemas! Pra quem é Modular PRO, as aulas ficarão gravadas. Pois é, benefícios dos bons lá no nosso servidor.
Além disso, você participa das conversas mais bacanas sobre o mercado cripto, com a galera mais insana desse mercado.
Venham ser PRO!
O histórico dos cortes
Os analistas da Bitfinex publicaram no dia 16 de setembro a edição 122 do relatório “Bitfinex Alpha”, que traz um apanhado sobre o mercado cripto.
E adivinha só? Eles trataram, justamente, da possibilidade de volatilidade nessa semana após os possíveis cortes.
Primeiro, eles apontam que é muito provável que role volatilidade independente de quanto for cortado. Ou seja: os preços vão balançar bastante entre quarta-feira e sábado. O histórico aponta que, na maioria dos casos, há um despejo no mercado de ativos de risco logo após esses cortes.
Agora é que entra a importância do tamanho do corte: enquanto um corte de 25bps pode ser visto como muito positivo e cauteloso, deixando a galera animada, um corte mais profundo de 50bps pode deixar alguns investidores preocupados, levando a uma redução na exposição ao risco.
No fim das contas, ambos têm potencial positivo para o mercado, mas seus impactos diferem bastante quando analisamos até o final do mês de setembro.
O corte de 25bps pode trazer uma recuperação mais rápida após o sell-off pós-corte, enquanto o corte de 50bps pode fazer com que essa recuperação demore um pouco mais.
“Mas por que essa diferença, Pelica?” Aqui é a informação que eu não contei quando tava explicando a dinâmica da taxa de juros e o mercado financeiro.
Os bancos centrais não mexem nessas taxas porque eles são malucos. As taxas básicas de juros são uma das formas que as autoridades financeiras têm de controlar o ritmo da economia.
Sem entrar aqui na dinâmica de consumo, inflação e recessão, o que vocês precisam saber é: quando tá rolando dinheiro em abundância, uma hora alguém vai precisar esfriar a economia pra não deixar a máquina dar pau.
Ao mesmo tempo, a máquina não pode ficar fria por muito tempo, senão ela para. Seguindo com essa metáfora: ainda não tá claro se a máquina, que é o mercado financeiro global, tá indo pra temperatura correta, ou se ela vai dar pau.
O que eu tô querendo dizer é: ainda não tá claro se o que vem agora é um crescimento mais lento, mas saudável, ou se o mundo caminha para uma recessão. Um corte maior na taxa de juros em meio a essa incerteza, então, pode deixar os investidores apreensivos sobre dar zebra.
E quais são as chances de recessão?
Olha, de acordo com a Franklin Templeton, que é uma das 20 maiores gestoras de ativos do mundo, os sinais são majoritariamente positivos. Isso significa que a possibilidade de uma recessão é baixa.
Na semana passada, a Nansen publicou no relatório semanal que a coisa não está tão clara assim, reforçando o que eu trouxe acima.
A Aurelie Barthere, que é a principal analista da Nansen e o amor da minha vida, levantou que os dados macroeconômicos da Zona do Euro, China e Estados Unidos apontam para um índice de gestores de compras fraco.
Além disso, o mercado de trabalho nos Estados Unidos tá bem frio, o que não é o ideal agora. Sim, o Tio Sam espera um arrefecimento no crescimento, mas esfriar demais não é um bom sinal.
Ao mesmo tempo, números referentes aos setores de serviço e consumo permanecem estáveis, mas as economias das famílias menos abastadas pode impactar o consumo mais adiante.
Tão vendo como as coisas ficam lá e cá? O cenário que se pinta é incerto, sem deixar claro se estamos indo para uma fase de crescimento controlado, ou se estamos escorregando para uma recessão.
Em outras palavras, até mesmo o corte na taxa de juros, que costuma ser positivo, pode acabar fazendo o Corsinha derrapar na curva. É aquela frase: em excesso, até água é veneno.
Setembro e outubro são opostos
O trader Rekt Capital analisou o histórico dos meses de setembro e outubro para o Bitcoin, tanto nos mercados de alta quanto nos mercados de baixa.
O que ele descobriu foi: o retorno mensal médio do Bitcoin no mês de setembro é de 4,48% negativos. Por outro lado, o retorno mensal médio do Bitica em outubro é de praticamente 23%.
Essa performance ruim em setembro não rola só com o Bitcoin, mas com o mercado de ativos de risco no geral. É o período quando gestores estão voltando das férias e começam a mexer de novo no portfólio. Essas mudanças dão uma balançada o mercado.
A história sugere, então, que setembro ainda pode ser um mês fraco mesmo com o corte na taxa de juros. Por outro lado, outubro pode ser um mês incrível. Interprete isso da forma como você quiser.
Mas e aí, Pelica?
Esse cenário incerto mata o apetite por risco, pelo menos por enquanto. O que os dados macroeconômicos pintam é: o objetivo ainda é sobreviver a setembro, sem meter demais o louco.
É possível que os preços disparem depois do corte na taxa de juros dos Estados Unidos, contrariando tudo? Sim, sempre é possível. Mas eu prefiro ir pelo histórico e pelos dados que a gente tem até agora.
Por via das dúvidas, esperem o corte na taxa de juros na quarta-feira e respondam de acordo. Se subir, aguardem a correção e comprem. Se cair, aproveitem e coloquem mais uma grana.
Resumindo legal:
Um corte na taxa de juros dos EUA amanhã ainda não transforma tudo em farra no curto prazo. O ideal é ver um corte de 25bps e aguardar a volatilidade que vai rolar entre os dias 19 e 21 de setembro, e oportunidades podem surgir nessa janela;
O risco de recessão ainda não foi descartado, ainda que a probabilidade tenha ficado menor;
De qualquer forma, acho que ainda teremos um Q4 forte para o mercado cripto;
Porém, ainda que o histórico aponte para um mês de outubro forte, impulsionado pelo corte na taxa de juros, tenha um plano B caso seja diferente dessa vez.
Acredito que, na semana que vem, analistas com conhecimento em macro já terão um panorama um pouco mais claro, com base no que rolar nessa semana. Se for interessante, trago aqui um artigo de atualização.
Agora, pode descer da motoca.