O Ecossistema Cosmos: A Internet das Blockchains
Conhecendo o ecossistema InterChain da Cosmos e suas principais oportunidades
Imagine um universo onde cada estrela é uma blockchain, brilhando intensamente com seu próprio conjunto de regras, comunidades e criptomoedas. Agora, imagine que essas estrelas não estão isoladas no vazio, mas conectadas por uma teia cósmica que permite que elas se comuniquem, interajam e cresçam juntas. Bem-vindo à Cosmos, a internet das blockchains.
A Promessa da Interoperabilidade
No coração da Cosmos está a interoperabilidade, isto é, a capacidade de diferentes blockchains não apenas se reconhecerem, mas também interagirem de maneira significativa. Isso é tão revolucionário quanto foi o e-mail para a comunicação na internet, uma vez que permite trocas entre diferentes blockchains.
Isso só é possível, uma vez que a Cosmos possui um protocolo base a ser seguido e copiado, sendo este o Cosmos SDK (o framework de código aberto da Cosmos para construir uma rede Proof-of-Stake pública de multi-ativos).
Sim, apesar de "interoperabilidade" ser um dos temas mais discutidos do ecossistema Ethereum atualmente (2024), a Cosmos se preocupa com isso desde seus primórdios, sendo uma das precursoras no assunto. Isto é, antes do surgimento de projetos como a Cosmos, as blockchains eram como ilhas isoladas, e com a Cosmos, foi possível que elas se tornassem cidades em uma rede global interconectada.
Coisa similar também acontece na Polkadot, que também oferece uma solução de conexão entre os projetos do ecossistema, chamados de parachains. Não só, mas assim com mencionado anteriormente, o ecossistema Ethereum também está passando por seu momento de “interoperabilidade", com cada uma das redes de segunda camada criando sua própria solução, como a Optimism e o sonhado conceito de SuperChain, ou a Polygon e seu tão esperado Aggregation Layer.
Em resumo, há concorrência nesse meio, até mesmo porque os projetos já perceberam a importância de criarem um ecossistema interconectado, atraindo liquidez e projetos, porém Cosmos tem carregado a dianteira no assunto, tornando-se uma referência a todo o ecossistema cripto.
Uma Breve História da Cosmos
A Cosmos não surgiu da noite para o dia. O projeto foi lançado oficialmente em 2019, após anos de desenvolvimento, nascendo com a visão de um mundo onde blockchains poderiam quebrar suas barreiras nativas. Através do uso do Tendermint, um algoritmo de consenso byzantine fault tolerant (projetado para resolver problemas de consenso em redes distribuídas) e do Inter-Blockchain Communication (IBC) protocol, a Cosmos trouxe uma nova era de colaboração de diferentes chains do seu ecossistema.
A Missão da Cosmos
A missão do Cosmos é simples, mas profunda: tornar a blockchain algo trivial. Isso significa democratizar a tecnologia de blockchain, tornando-a acessível a desenvolvedores, empresas e instituições, permitindo-lhes criar soluções customizadas que podem facilmente interagir com o resto do ecossistema blockchain.
Em essência, a Cosmos quer ser uma espécie de WordPress das blockchains. Ao invés de cada projeto ter seu token em EVM (Ethereum) cada projeto tem sua rede soberana, podendo inclusive servir para diferentes propósitos (Dex, DePin, IoT, NFTs…).
Seu Grande Diferencial e Ecossistema
A interoperabilidade que a Cosmos oferece tem implicações gigantescas para a forma como entendemos e interagimos com tecnologias de armazenamento distribuído. Ela permite a criação de um ecossistema digital verdadeiramente descentralizado e resistente à censuras, onde a troca de valor, informação e confiança acontece de maneira livre e fluida, sem os gargalos e os intermediários que se mostram presentes em muitos sistemas atuais, como é o caso das bridges, que frequentemente sofrem enormes hacks, ou problemas de processamento da rede dada a uma demanda maior por espaço de bloco.
Na Cosmos cada projeto é uma chain independente e soberana, sendo assim leve e barata de transacionar.
Outro ponto interessante da Cosmos é o seu ecossistema. Muitos projetos conhecidos utilizam o Cosmos SDK para desenvolvimento, ou ao menos partes do protocolo IBC (Inter-Blockchain Communication), e os usuários sequer se atentam a isso. Observando seu ecossistema, é possível visualizar um ecossistema que voltou à casa do bilhão de dólares em TVL, representado por um conjunto de chains que conversam entre si.
A queda da Cosmos
Embora a Cosmos seja uma blockchain de terceira geração, competindo com suas múltiplas blockchains e possuindo um dos maiores ecossistemas existentes, grande parte de seu crescimento em 2022 foi impulsionado pelo sucesso da Luna (os mais antigos irão se lembrar por muito tempo desse nome, não é?) . Naquele ano, a Luna alcançou a oitava posição com um valor de mercado superior a 30 bilhões de dólares, rivalizando fortemente com a ascendente Solana. Além disso, bom lembrar também que a Luna possuía a stablecoin Terra USD, teoricamente descentralizada e eficiente, que ocupava a 11ª posição com um marketcap de mais de 18 bilhões de dólares.
O projeto chamou tanta a atenção que tivemos até usuários “prestando homenagem” ao projeto (o que claramente foi um sinal de topo na época):
A Terra USD servia como token base para grande parte do ecossistema Cosmos, com dezenas de pools em diferentes tokens. No entanto, assim como a queda da FTX foi um golpe para a Solana, o colapso da Terra USD causou um impacto ainda maior na Cosmos, levando à drenagem de valores na escala de bilhões em seu ecossistema. Isso feriu gravemente o ecossistema Cosmos na época, gerando dúvidas no mercado sobre sua capacidade de sobrevivência.
Porém, mais de 2 anos já se passaram desde esta fatídica situação e assim como vemos Solana nascendo renovada, também vemos o ecossistema da Cosmos se fortalecendo, com diversos usos de caso, com a poderosa tecnologia IBC e uma nova linhagem de blockchain não só interchain, mas também modular.
Mas vamos por partes, para entender Cosmos é importante também entender sua principal exchange, a Osmosis.
Osmosis: Interchain e Diferenciação no Universo AMM
A Osmosis é, a principal exchange descentralizada (DEX) construída no ecossistema Cosmos que se destaca por sua abordagem inovadora à negociação entre diferentes redes blockchain.
Ao contrário de exchanges centralizadas ou mesmo de muitas DEXs baseadas em Ethereum, como a Uniswap, a Osmosis foi projetada desde o início para suportar a troca de ativos entre diferentes blockchains, aproveitando o protocolo Inter-Blockchain Communication (IBC) da Cosmos, que explicamos no início. Isso permite que a Osmosis opere não apenas dentro do ecossistema Cosmos, mas também estabeleça pontes para outros ecossistemas de forma mais fluida e segura do que as pontes tradicionais, entregando uma experiência mais simples e fácil ao usuário final.
- Mecanismo de AMM Único: Uma Comparação com a Uniswap
Enquanto a Uniswap é frequentemente citada como o padrão-ouro das corretoras descentralizadas, graças ao seu modelo Automated Market Maker (AMM) simples e eficaz, a Osmosis introduz variações importantes para os principais players do mercado cripto. Na realidade, a principal inovação da Osmosis não está apenas em suportar a interoperabilidade entre diferentes blockchains, mas também em permitir que os usuários personalizem as curvas de AMM e as políticas de recompensas de liquidez.
Isso significa que, em vez de uma abordagem de tamanho único para todas as pools de liquidez, a Osmosis oferece flexibilidade para que as pools sejam otimizadas conforme as necessidades específicas de cada par de negociação além da função de superfluid que permite stake somado à pool de liquidez. A Uniswap V3 até chega próxima de algumas dessas features da Osmosis, mas há ainda maior customização nesta última.
- Influência na Liquidez e Adoção
A oferta de personalização e a interoperabilidade nativa da Osmosis têm implicações diretas na liquidez e na adoção do ecossistema Cosmos. Ao facilitar uma ponte mais segura e simples entre diferentes blockchains, a Osmosis não apenas atrai usuários de outras redes para o ecossistema da Cosmos, mas também incentiva a criação de liquidez em pares de ativos menos comuns ou emergentes.
Isso permite a criação um ecossistema com maior liquidez, algo que auxilia para que novos projetos cresçam, apoiados por uma infraestrutura de negociações/trocas mais robusta e personalizável. Apesar disso, importante mencionar também que a Cosmos não se limita a sua tecnologia IBC, ela ainda usa bridges com apoio da Axelar, outro grande protocolo de interoperabilidade, para conectar a outras chains do modo “tradicional” como é a Ethereum, BSC, Arbitrum, Matic e outros.
- Uma Conclusão Crítica sobre a Osmosis
Ao considerar a proposta de valor da Osmosis, é importante reconhecer tanto suas inovações quanto seus desafios. Embora ela ofereça um mecanismo de AMM único e flexível, acompanhado pela promessa de interoperabilidade aprimorada, esses avanços vêm com a complexidade de gerenciar e otimizar pools personalizadas, o que pode representar uma curva de aprendizado para novos usuários e criadores de mercado. Além disso, cabe lembrar que a segurança e a eficiência dessas inovações continuam a ser testadas à medida que o ecossistema Cosmos e o espaço cripto em geral evoluem.
Portanto, enquanto a Osmosis se destaca como uma plataforma de troca realmente inovadora, sua verdadeira unicidade vem da combinação de interoperabilidade, personalização e uma abordagem orientada à comunidade, desafiando outras DEXs a evoluir além dos modelos estabelecidos.
Stargaze: Reinventando o Marketplace NFT na Cosmos
Outro ecossistema em bastante destaque dentro do ecossistema da Cosmos é a Stargaze, que é uma blockchain layer 1 especificamente voltada para NFTs, o que imediatamente a separa de outras plataformas de NFT que operam em blockchains de propósito geral.
Essa especialização permite uma experiência mais refinada e otimizada para criadores e colecionadores, especialmente em termos de custo e desempenho. Ao descentralizar o controle e oferecer transações com taxa zero para várias operações, enquanto aplica taxas específicas apenas para transações relacionadas a coleções, mints e mercado secundário, a Stargaze oferece um modelo econômico que combina sustentabilidade e acessibilidade ao mercado de NFTs.
- Economia de Gás e Modelo de Negócios
A decisão de isentar certas taxas de transações enquanto monetiza outras diretamente ligadas à criação e negociação de NFTs reflete uma compreensão profunda das necessidades dos artistas e colecionadores pelo projeto, colocando essas figuras como prioridade do protocolo. Esse modelo não apenas facilita a adoção e o engajamento, mas também garante que a rede possa se sustentar e crescer sem sobrecarregar seus usuários.
Ao fim do dia, a Stargaze é um dos mercados de NFT mais descentralizado, se não o maior. As decisões são tomadas onchain, com propostas feitas pelos usuários, conectando aplicações feitas pela comunidade no marketplace, crescendo assim, gradativamente, como uma chain independente que já movimentou mais de 20 milhões de dólares dentre seus produtos:
- Impacto Cultural e Econômico
O sucesso de coleções blue-chip como Bad Kids ou Celestine Sloth Society, que alcançam preços significativos, encontraram uma comunidade relevante e geram um volume relevante de negociação, ilustram a capacidade da Stargaze de hospedar projetos de alto valor que capturam a imaginação do público e incentivam a participação ativa no ecossistema. Além disso, a utilização dessas coleções de destaque como critério para airdrops por projetos do ecossistema, como o Pike ou a Wormhole, demonstra o potencial da Stargaze para integrar-se e enriquecer a economia interchain mais ampla.
Inclusive, a Stargaze foi o mercado que eu (Borderless) decidi lançar o projeto do qual faço parte chamado de in/habitants, um Web3comic com sua própria coleção, stake e validador, no qual os holders escolhem votando nesse validador para o futuro do marketplace e chain, coisas as quais seriam impossíveis em outras chains.
- Diferenciação Estratégica
Ao oferecer uma plataforma visualmente distinta e operacionalmente independente de marketplaces mais centralizados como o OpenSea, a Stargaze não só promove a descentralização, mas também incentiva a inovação no design e na funcionalidade, com características, particularidades e até comunidades próprias. Isso atrai um público que valoriza a originalidade e a propriedade coletiva, o que acaba por criar uma cultura interna com esses mesmos valores.
- Uma Conclusão Stargaze
A Stargaze representa um avanço relevante na maneira como os NFTs são criados, comercializados e valorizados dentro do ecossistema Cosmos e além.
Seu modelo econômico diferenciado, juntamente com a capacidade de atrair e sustentar coleções de alto valor, estabelece a plataforma como um pilar de grande relevância no ecossistema Cosmos. Ao fazer isso, o projeto não apenas enriquece a cultura interchain com novas formas de expressão artística e oportunidades econômicas, mas também estabelece um novo padrão para marketplaces de NFT, que realmente valoriza a liberdade criativa, a acessibilidade econômica e a descentralização.
Apesar disso, todas essas novidades acabam trazendo desafios para o projeto se conectar com facilidade com o que já está estabilizado, como diversas plataformas de gestão/negociação de NFTs ou sistemas que optaram por EVM, sofrendo do mesmo problema que NFTs da Solana ou Polkadot sofrem, por serem uma tecnologia diferente do ecossistema dominante da Ethereum.
Celestia: Reinventando a Arquitetura Blockchain
Não há como mencionar a Cosmos e não trazer também sobre a Celestia, o projeto mais esperado pelo ecossistema Cosmos nos últimos tempos.
A Celestia se destaca no ecossistema interchain, tornando-se uma das febres no início de 2024 como a primeira plataforma modular de camada 1, introduzindo uma abordagem radical e nova para a construção de blockchains, sendo “apenas” uma camada de disponibilidade de dados.
Ao separar a camada de consenso da camada de execução, a Celestia trouxe uma solução para possivelmente resolver o trilema da blockchain, oferecendo uma solução que é ao mesmo tempo, escalável, segura e focada no armazenamento de informações.
- A Visão por Trás da Celestia
A Celestia foi co-fundada por Mustafa Al-Bassam, um pesquisador e empreendedor no campo da segurança e tecnologia blockchain. Sua visão para a Celestia nasceu de uma crítica ao estado atual das blockchains, onde o deixar o consenso e execução de blockchains em uma só camada cria ineficiências e limitações significativas na escalabilidade e flexibilidade das redes.
- Abordagem Modular
A abordagem modular da Celestia é realmente inovadora porque permite que desenvolvedores construam suas próprias blockchains personalizadas ou aplicativos descentralizados (dApps) em cima de uma camada de consenso compartilhada. Isso não só reduz a barreira à entrada, como também permite uma maior experimentação e diversificação de projetos sem comprometer a segurança ou a escalabilidade do projeto.
Mas como assim?
Com a Celestia, os projetos podem focar no desenvolvimento de suas camadas de execução específicas, otimizando para casos de uso particulares enquanto se beneficiam da robusta camada de consenso de Celestia. Isso abre caminho para uma nova era de blockchains altamente especializadas e dApps, que podem escalar de maneira eficiente conforme a demanda.
- Celestia e o Ecossistema Cosmos
A filosofia de design de Celestia complementa e expande o objetivo da Cosmos de facilitar um ecossistema interchain. Ao oferecer uma solução modular, a Celestia permite uma integração mais simples entre diferentes blockchains, fortalecendo a visão da Cosmos de uma Internet de Blockchains.
A capacidade de Celestia de operar como uma camada de base para blockchains especializadas facilita uma interconexão mais rica e funcional entre redes, potencializando o IBC (Inter-Blockchain Communication) da Cosmos. Isso não apenas melhora a interoperabilidade dentro do ecossistema Cosmos, mas também estabelece um novo padrão para a comunicação e colaboração interchain em toda a indústria, o que coloca EVM em jogo e vem fazendo com que o ecossistema Ethereum como um todo trabalhe em melhorias à sua máquina virtual.
- Desafiando o Status Quo
Celestia não apenas desafia o status quo com sua arquitetura modular, mas também inspira a indústria a repensar o design das blockchains.
A visão de Mustafa Al-Bassam é um desafio ao status quo e relembra a cultura Cyberpunk pertencente à web3. Sua história começa de maneira um tanto controversa, já que ele ganhou notoriedade inicialmente como membro do coletivo de hackers LulzSec, uma ramificação do Anonymous, um grupo que executou várias invasões de alto perfil em organizações governamentais e corporativas.
Focando em expor vulnerabilidades e, em muitos casos, protestar contra práticas que consideravam injustas ou abusivas. Essas atividades o colocaram em rota de colisão com as autoridades, culminando em sua detenção e condenação por crimes relacionados à cibersegurança. Após cumprir sua pena que o obrigava ficar longe da internet, ele voltou-se para a pesquisa e mergulhou ainda mais fundo e blockchain, ele chegou até mesmo a escrever um estudo com o Vitalik e criou um time de craques na Celestia.
- Apontamentos Finais da Celestia e Conclusão
A Celestia representa um marco importante na jornada em direção a um futuro blockchain mais escalável, seguro e interoperável. A abordagem modular não apenas resolve problemas técnicos significativos, mas também alinha com ethos interchain da Cosmos, promovendo uma maior disputa de inovação, velocidade e popularidade entre abordagens onchain. À medida que projetos como a Celestia avança, ela não apenas redefine o que é possível dentro do ecossistema Cosmos, mas também estabelece um novo paradigma para a indústria como um todo.
Porém, uma “chain de chains”, como a Cosmos deve ter muito mais que cases específicos. E verdadeiramente, há muito mais, projetos como Neutron, a chain de smart contracts, Stride para liquid stake interchain, Injective e DYDX para o mercado de perpétuos que dominam grande parte de todo o mercado cripto. Isso sem contar os gigantes Cronos da corretora cripto.com e ainda cases como Oasis Network, potente infraestrutura para jogos e até a Akash, focada em descentralização de armazenamento e processamento onchain.
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