Nova iniciativa cross-chain junta EigenLayer, Aptos, Sui e outras L1
O ecossistema descentralizado precisa de uma solução de interoperabilidade que também seja descentralizada. Talvez ela tenha chegado.
Há sete anos, cripto era um saco. Quem entrou no mercado antes do “DeFi Summer” sabe do que eu tô falando. Era entender o basicão de Bitcoin e Ethereum, comprar ambos e ficar de boa.
Felizmente, cripto virou um playground gigantesco. Um playground cheio de brinquedos, que vão desde marketplaces de memecoin pra você perder dinheiro até complexos protocolos de empréstimo onde você se alavanca até ficar tonto. E isso é incrível!
O problema é que muitos desses brinquedos são separados por oito quilômetros de distância. Sim, eu estou criticando a interoperabilidade porca do mercado com uma analogia meio estranha.
O artigo de hoje é sobre o mais recente desenvolvimento da Axelar, que eu não vi ninguém comentando muita coisa e achei estranho.
Resumindo: os caras criaram uma malha de interoperabilidade, com um kit de desenvolvimento de software (SDK, na sigla em inglês), e puxaram blockchains como Solana e Sui pra dentro da parada. Pois é.
O nome dessa nova iniciativa é Mobius, tipo aquele filme ruim, mas sem a letra “r”.
Nas próximas linhas, vou te explicar porque isso é importante. Não, talvez não dê dinheiro. Mas é importante. E não, não é uma tese de investimento em AXL.
RANDANDANDANDANDANDANDANDANDAN!
Ouviu esse barulho? É a motoca. Suba logo nela!
O que diabos é Axelar?
Antes de explicar o que rolou na semana passada, eu preciso pincelar o básico sobre o que é a Axelar. Se você já sabe o que é, pode pular direto para a área da Mobius.
Em uma publicação feita para explicar o projeto, a Axelar se chama de uma rede “overlay”, que significa “sobrepor”. Em outras palavras, a Axelar é uma blockchain que se sobrepõe a outras e conecta as informações.
Essa blockchain é criada usando tecnologia da Cosmos, como o Cosmos SDK, CometBFT e CosmWasm. Não vou detalhar o que são essas paradas, mas vou deixar os links de fontes no final do artigo caso vocês queiram conferir.
Essas conexões são chamadas de “Gateways”, que são geralmente contratos inteligentes que ficam instalados nas blockchains de destino.
Eu disse “geralmente” porque isso é verdade para as blockchains compatíveis com a Máquina Virtual do Ethereum (EVM, na sigla em inglês), ou Ethereum Virtual Machine. Não é, porém, necessariamente o caso em outras redes.
Cada um desses Gateways é monitorado pelos validadores da Axelar, e são 75 deles atualmente, de acordo com o Axelarscan. Para virar um validador, você precisa fazer staking do token AXL. Guarde essa informação sobre o staking de AXL.
Isso significa que a Axelar é uma rede que funciona sob o mecanismo de consenso PoS, proof of stake, ou prova de participação.
E aí a gente chega na comunicação cross-chain, que na Axelar recebe o nome de General Message Passing (GMP).
Deixando de forma digerida, é assim:
Um usuário sinaliza no Gateway da Rede A que quer enviar um token dessa blockchain para a Rede B;
Os validadores recebem o pedido, verificam, confirmam e assinam o comando para o token passar para a Rede B;
O token é recebido no Gateway da Rede B.
Se ficar muito confuso, aqui tá uma imagem para ajudar no processo. Tem um axolote bem fofinho também, que é de onde vem o nome Axelar. A imagem tá em inglês e eu não tive tempo de traduzir, mas já dá pra ter uma noção legal.
Através dessa infraestrutura, eles conectam atualmente 68 diferentes blockchains.
“Mas Pelica, é muita máquina virtual diferente!” É sim, vida. Cripto é uma zona, a gente sabe disso. Por isso eles criaram a Máquina Virtual da Axelar (AVM, na sigla em inglês), ou Axelar Virtual Machine.
Sem entrar em detalhes super técnicos, mas isso tem a ver com o CosmWasm usado pela Axelar, que permite transformar interoperabilidade em algo interoperável. Em outras palavras, eles têm flexibilidade para conectar estruturas fundamentalmente diferentes.
Em suma, é assim que funciona a Axelar. Tem mais coisas, tipo o CGP e o CTP que ficam dentro do GMP, mas eu não vou entrar nisso. O objetivo aqui é dar essa introdução sobre o que é a Axelar.
Ah, e tem uma parada que eu curto muito: qualquer blockchain pode se conectar à Axelar, basta pagar o custo em AXL para utilizar a estrutura. O nome disso é Interchain Amplifier, e recentemente entrou em funcionamento na mainnet.
Mas o que é a Mobius?
Ok, agora que exploramos alguns conceitos importantes, vamos finalmente falar sobre o que é Mobius. O nome todo é Mobius Development Stack (MDS), e isso já revela que o projeto tem um kit de desenvolvimento de aplicações.
De forma simples, a Mobius é uma plataforma onde diferentes blockchains podem criar aplicações descentralizadas (dApps) de forma interconectada.
Por exemplo, se eu lançar a Peli Lend dentro da Mobius, eu tenho a opção de tornar o dApp instantaneamente disponível em todas as redes que fazem parte dessa malha de interoperabilidade.
De cara, as blockchains disponíveis são: Flow, Hedera, Solana, Sui e XRP Ledger. Pois é, se você usar a Peli Lend, vai poder interagir com SOL e SUI na mesma aplicação de forma simples, sem ficar pulando de uma ponte pra outra.
Outra característica importante aqui é a possibilidade de integrar co
isas que estão fora da blockchain, como co-processadores de inteligência artificial e conhecimento zero.
Tem também o fator importante do MDS ser um kit para desenvolvimento de dApps, trazendo um padrão só para o desenvolvimento dessas aplicações.
Isso facilita demais não só na padronização do DeFi, mas também facilita a vida dos desenvolvedores.
Falando em desenvolvedores, a Mobius também já virá com integração na OpenZeppelin. Nessa integração, desenvolvedores já poderão criar logo de cara as aplicações interoperáveis de forma simples.
Pera aí, rapidão
Antes de abordar a importância de uma malha descentralizada para fornecer interoperabilidade, vem comigo rapidão.
Modular PRO é a sua passagem para o próximo nível em DeFi!
Você tem acesso a uma comunidade focada nas finanças descentralizadas e a um pessoal que já vive esse mercado há um tempo. E o mais importante: que tem grana no jogo.
Uptober tá aí, por mais que não pareça, e cada minuto é essencial. Vem ser PRO com a gente!
A importância
“Mas Pelica, Chainlink e LayerZero já fazem isso, sem falar na Wormhole.” Sim, galera. Mas aqui eu vou destacar o principal diferencial da Axelar: decentralização.
Começa pelo poder de voto dos validadores, que é basicamente igual. Para um validador ter mais poder de voto que o outro, não basta só ter meia dúzia de AXL a mais. Esse poder de voto escala por quantidades fixas.
Ou seja: não basta você ter 10 AXL e eu 11 AXL. Para ter mais poder de voto que você, eu deveria ter 100 AXL. E aí, pra furar o próximo teto de poder de voto, eu precisaria ter 1000 AXL.
Desta forma, se eu tenho 100 AXL e outro validador tem 999 AXL, a gente tem o mesmo poder de voto.
Além disso, como eu falei, qualquer rede pode se plugar na malha da Axelar. Junta isso com os pools de staking dos validadores e você tem uma estrutura de decentralização interessante.
Por outro lado, o Cross-Chain Interoperability Protocol (CCIP) da Chainlink e a malha da LayerZero funcionam com base em carteiras multiassinatura (multisig).
No caso do CCIP, uma multisig com oito validadores pode mudar a estrutura do projeto com quatro aprovações.
Já a LayerZero opera com uma multisig com dois validadores, um oráculo e um relayer, e ambos precisam validar a transação.
No fim das contas, a Axelar tem um conjunto de 75 validadores para aprovar as transações entre blockchains.
E aqui a coisa fica mais interessante.
EigenLayer e Babylon entram na Mobius
Lembram quando eu pedi para vocês guardarem a informação sobre o uso de AXL para se tornar um validador? Então…
A EigenLayer e a Babylon entraram na parceria que deu origem à Mobius e agora é possível usar versões de restaking de Ethereum e Bitcoin nos pools de validação da Axelar. Não vou explicar o que é restaking, mas vou deixar um link no final do artigo caso vocês queiram aprender.
Em outras palavras, parte da segurança do Ethereum e do Bitcoin também vai virar segurança da Axelar.
O Luke Hajdukiewicz, head de business development de AVS da EigenLayer, falou o seguinte:
“A integração com o Mobius Development Stack da Axelar abre um universo de oportunidades para o restaking através de novos casos de uso antes inacessíveis para a Eigen. Axelar e EigenLayer estão buscando a mesma visão: uma Web3 horizontalmente escalável onde desenvolvedores criar livremente através de redes e recursos.”
Quem também falou sobre a parceria foi o David Tse, co-fundador da Babylon:
“Hoje, nós construímos e trabalhamos em um mundo multichain, mas uma blockchain, o Bitcoin, ainda define o padrão de segurança. Através dessa integração, o Axelar MDS tornará a segurança do Bitcoin disponível para aplicações da Web3. Isso cria um novo padrão para interoperabilidade segura em todas as redes.”
Além disso, desenvolvimentos também falam sobre o projeto. A Autoridade Monetária de Singapura tá indo pro segundo ano do sandbox regulatório deles, que chama Projeto Guardian.
O Guardian é tipo o que rola aqui com os sandboxes da CVM e do Banco Central: eles testam tokenização e utilização de tokens para criar um novo sistema financeiro, com a participação de grandes empresas do mercado financeiro tradicional.
A Axelar, pelo segundo ano consecutivo, tá sendo usada como infraestrutura de interoperabilidade de alguns bancos participando do Projeto Guardian. Um deles é o JPMorgan.
Resumo da ópera
Ter uma malha de interoperabilidade decentralizada é algo importante demais para o ecossistema DeFi, que carece desse tipo de solução.
Isso se torna ainda mais significativo quando protocolos como EigenLayer e Babylon abraçam a causa e resolvem auxiliar na segurança do projeto.
Acredito que esse desenvolvimento será muito positivo para o ecossistema descentralizado como um todo, ainda que não se concretize dentro desse bull run.
Ainda que acabe em zebra, o que tende a acontecer em cripto, pelo menos abre o caminho para que outros times ajustem suas soluções de acordo.
Ninguém sabe o que o futuro reserva, mas eu tô otimista. Agora, desce da motoca.
Materiais adicionais
Documentação sobre Cosmos SDK: https://docs.cosmos.network/;
Documentação do CometBFT: https://docs.cometbft.com/#:~:text=CometBFT%20is%20a%20blockchain%20application,applications%2C%20CometBFT%20serves%20blockchain%20applications;
Texto explicando CosmWasm aplicado em contratos inteligentes: https://docs.cosmos.network/v0.46/CosmWasm/#:~:text=CosmWasm%20is%20a%20smart%20contracting,(Wasm)%20hence%20the%20name;
O que é restaking: https://trustwallet.com/blog/what-is-restaking#:~:text=Restaking%20is%20an%20innovation%20in,staking%2C%20thereby%20generating%20extra%20yields.
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