Nadando 100 metros em uma piscina rasa
Reflexões sobre Liquidez, Experiência para Trades e Memecoins
Desde o começo do ano, o valor total do mercado de stablecoins cresceu 25,4%, o que dá cerca de US$ 33,4 bilhões em números absolutos. Consequentemente, o mercado de stablecoins está em sua máxima histórica enquanto escrevo esse texto, o que é algo muito significativo.
O problema disso é que, na cabeça do investidor médio, esse dado pode trazer aquela velha máxima à mente: “no bull run, tudo sobe.” Sinceramente, sei não.
Vamos começar avaliando a disponibilidade de dinheiro por aí pra fazer esse monte de moedinha mágica subir.
A disponibilidade dessas stablecoins no mercado, porém, não está lá das melhores. Um filtro que eu curto usar pra isso é quanto os “smart traders”, que é o nome dado pela Nansen aos traders com lucros consideráveis em até 180 dias, possuem de stablecoins em seus portfólios.
Entre 1º de janeiro e 9 de junho, o percentual de stablecoin no portfólio desses caras ficou abaixo de 5% em 52 dias. A título de comparação, durante o bull run em 2021, foram 62 dias abaixo de 5%. Em outras palavras: em um período onde o ciclo de alta tava mais acentuado, a diferença foi de apenas 10 dias.
E eu com isso?
Esses números sugerem que os traders mais experientes estão navegando esse mercado altamente alocados. A grana tá rotacionando rápido, e qualquer bobeira pode fazer você perder a próxima oportunidade.
E pior: agora o mercado disputa volume com as memecoins. Atualmente, é difícil filtrar o CoinGecko por categorias e não ver memecoins dentro do top 10 em volume movimentado nas últimas 24 horas. Curiosamente, ontem foi um desses dias, mas tem sido raro ver algo assim.
Por isso, com a grana se movimentando cada vez mais rápido, o mercado começa a criar desafios para quem não conseguiu sair do gesso do ciclo passado. Para quem não viveu o último ciclo de alta, uma parte considerável do modus operandi dos investidores era observar as disparidades entre valor total alocado (TVL, na sigla em inglês) e o preço do token no DefiLlama.
Esse procedimento, somado a alguns outros fatores, era suficiente para direcionar a alocação de dinheiro. Aí era só sentar e esperar. Hoje em dia, contudo, está mais difícil fazer isso. Justamente porque o mercado está se movimentando de forma diferente, e a liquidez disponível pra pumpar tokens não está tão alta assim.
O Volantão da Base e o estado do mercado
Não vou explicar o “Volantão da Base” do zero aqui, mas vou deixar a versão resumida. “Volante” é a tradução literal do termo em inglês “flywheel”, que é usado para descrever quando a liquidez se desloca em um mesmo ciclo. Quando eu falo de Volantão da Base, então, estou falando que a liquidez costuma fluir para as mesmas memecoins desse ecossistema como se fosse em um ciclo.
Os traders com conhecimento de mercado e bala na agulha não estão, pelo menos por enquanto, ciclando os lucros para fora de lá. Eles usam a grana que possuem pra impactar as pools de liquidez, criar uma valorização e atrair a galera que compra quando vê setinha verde apontando para cima (preço subindo).
E aqui é onde eu encaixo o papo que rolou até agora, que é sobre liquidez, no “meta” do momento: atenção. No meu último texto sobre memecoins, falei que o fundamento desses ativos é justamente a atenção. Plot twist: o mercado todo se baseia em atenção no bull run.
Por isso, volto lá na dificuldade de só alocar dinheiro, sentar e esperar hoje em dia. Com os investidores cada vez mais frenéticos e os traders cada vez mais cientes disso, o que tende a acontecer é uma fluidez dinâmica no mercado.
“Mas isso sempre aconteceu.” Sim, mas não no momento que a gente tá agora. Não com menos de dois meses depois do halving. Se o token não ficou com setinha verde apontando pro alto, é possível que ele não fique tão cedo.
Ainda não sei como isso me afeta
O resumo de tudo o que foi dito: não morra com moedinha safada embaixo do travesseiro. Do jeito que as coisas estão se desenhando, com cada vez mais ativos e setores disputando a atenção dos investidores, não fique dando bobeira.
Dos mesmos criadores esquizofrênicos da estratégia VOLANTÃO DA BASE, surge a estrutura UM PENTE E RALA. É o seguinte: se você comprou um token e ele não está na narrativa, corte o loss em 20%.
“Ah, mas é muito ruim perder.” É melhor perder 20% do que ver isso derretendo e ter que sair depois com 50% negativos. Você tá parecendo meu amigo que terminou com a ex, tinha planos para reconquistar ela e não cortou o contato. Continuaram conversando.
O término são os 20% negativos. Os 50% negativos rolaram quando, por ainda manterem contato, ela elencou as profanidades que tava fazendo com o atual ficante. Resumindo: saiba quando cortar suas perdas. É melhor chorar um pouco agora e seguir adiante, do que sofrer muito mais por não saber sair.
Mas calma, eu não podia chegar aqui, disseminar a estrutura UM PENTE E RALA e não incluir o caso de memecoins. Cada caso é um caso, mas relativizar as coisas em cripto é algo complicado. Investidores começam a achar que são protagonistas de alguma série, que são super especiais, e fazem besteira. Então é o seguinte: memecoin caiu 50%, corta e vai pra próxima.
“Ah, mas pode violinar e subir.” Corta. E. Vai. Para. A. Próxima. Com a piscina ficando cada vez mais rasa, a gente precisa virar o Michael Phelps para nadar nela direito.
Disclaimer
Antes de terminar, gostaríamos de lembrar que o conteúdo discutido aqui é estritamente informativo e destinado a fomentar a discussão geral. Não deve ser interpretado como recomendação financeira, fiscal ou conselho de vida para qualquer indivíduo. Encorajamos fortemente que você faça sua própria pesquisa e consulte profissionais qualificados.
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