A Polkadot deu ruim?
Esta pergunta, por mais simples que pareça, é uma excelente questão para ser feita constantemente, em diferentes oportunidades, a todos os ativos que acumulamos.
Existe uma pergunta que provavelmente todo projeto que apresentou uma excelente performance no preço de mercado no ciclo anterior já deve ter recebido: deu ruim? Independente se a rede era Polkadot, Cardano, Avalanche, Fantom, Cosmos, ou qualquer outra, se você já está há algum tempo em cripto, você certamente já leu ou até mesmo já fez tal pergunta para algum ativo “sobrevivente”.
Esta pergunta, por mais simples que pareça, é uma excelente questão para ser feita constantemente, em diferentes oportunidades, a todos os ativos que estão em carteira. Saber responder porque você ainda está exposto a determinado ativo pode elevar a probabilidade de sucesso de seus investimentos. É possível começar a responder sob a ótica de que somente o fato ter sobrevivido ao último e rigoroso mercado de baixa já é um ponto positivo a se destacar. Entretanto, ainda é pouco para revalidar uma tese de investimento.
Atividades de desenvolvimento das redes costumam ser ótimos indicadores para auxiliar em respostas de assimetrias de risco e retorno, afinal, se diante das adversidades, o projeto continuou construindo e desenvolvendo tecnologias, muito provavelmente o coloca à frente da concorrência. Isto já poderia ser um ponto positivo nesta reavaliação. Mas ainda sim, é pouco! Nesta pesquisa, vamos dar uma olhada rápida em alguns projetos em desenvolvimento no ecossistema da Polkadot e quem sabe responder a questão do título.
Pensar na próxima paragem!
Primeiramente, a análise da Polkadot não deve ser analisada sem antes ter o entendimento que a tecnologia proposta pelos seus fundadores tem a plena consciência de que a narrativa atual está pautada na linguagem de programação solidity e na máquina virtual do ethereum (EVM). Ou seja, a Polkadot não pretende rivalizar com a Ethereum, pelo contrário! A Polkadot pode auxiliá-la através de seu modelo de interoperabilidade e segurança compartilhada muito bem executado pela Relay Chain (camada zero). Entretanto, compreender a Polkadot passa por pensar além do legado que existe hoje na tecnologia de blockchain. Ou seja, se um dia a solidity não mais atender à indústria, a Polkadot quer estar preparada para o futuro dos contratos inteligentes, segundo palavras do próprio Gavin Wood, que entre tantas criações estão a própria linguagem solidity, a EVM e a Polkadot.
Portanto, enxergar quais estratégias e narrativas para o próximo ciclo você pretende se expor é fundamental para definir se a Polkadot pode estar ou não em seu portfólio. Ter claro que o principal ecossistema de smart contracts hoje está centrado ao redor do Ethereum, torna natural esperar que muitas das soluções tecnológicas que assumirão destaque já no próximo ciclo passam por resolver as dores da mainnet. Escalabilidade, custo de armazenamento e gestão dos blocos são as principais propostas das camadas 2 (Layer 2).
Isto também implica que nenhuma outra blockchain ou ecossistema irá competir igualmente com a Ethereum, especialmente em termos de liquidez. É razoável esperar que o dinheiro estará na Ethereum no próximo ciclo e nenhuma outra blockchain chegará próxima da capitalização de mercado e do volume de liquidez que a Ethereum movimentará no próximo ciclo de alta.
Moonbeam
Seguindo por essa ótica de liquidez, já que o capital no próximo ciclo estará no Ethereum, identificar quais parachains possuem boa comunicação com as redes do Ethereum pode mostrar um caminho. E sem sombra de dúvidas o primeiro nome a ser lembrado é o da Moonbeam, uma parachain que conecta a máquina virtual do Ethereum (EVM) à Polkadot.
O time construiu no mercado de baixa inteiro, tem entregado muita coisa para o ecossistema, sendo a mais recente a Moonbeam Routed Liquidity (MRL). Essa tecnologia permite que todas as parachains, mesmo sem possuírem a EVM, consigam facilmente atrair a liquidez externa para o ecossistema. Sem dúvidas, o desenvolvimento no Github da Polkadot e Kusama tem uma elevada contribuição do time da Moonbeam, já que a rede canária Moonriver tem sido um fértil local de experimentação. Portanto, neste momento, não seria exagero considerar que a blockchain melhor preparada para receber a liquidez externa do DeFi é a Moonbeam que já possui integrações com protocolos como Lido, Beefy, Curve, Uniswap além de nativos bem estabelecidos como Moonwell e StellaSwap.
Entretanto, o fato de uma das principais inovações da Polkadot ser sua abordagem única para conectar diferentes projetos e blockchains, o ecossistema resolve uma dor do mercado: evitar a segregação de projetos e limitar o potencial de inovação. Em outras palavras, significa dizer que projetos precisam de tranquilidade (segurança) e capital (interoperabilidade) para continuarem desenvolvendo. Ou seja, a Moonbeam é um dos hubs que pode distribuir liquidez para todas as blockchains que estão acopladas à relay chain da Polkadot (camada zero).
Centrifuge
Recentemente, a Centrifuge migrou a sua blockchain da Ethereum para a polkadot. Entretanto, a ida da Centrifuge para a Polkadot não implica que ela pretende “abandonar” a Ethereum, pelo contrário. Mesmo depois de ter migrado para a Polkadot, ela mantém ótimas relações com protocolos gigantes da Ethereum como a Maker DAO, onde oferece a colateralização de ativos do mundo real (RWA) para a stablecoin DAI do protocolo. Mais ainda, também pretende ser a facilitadora de RWA para a GHO, a stablecoin da AAVE. Repare que a Centrifuge apenas enxergou que a infraestrutura disponível na Polkadot executaria melhor as pretensões da rede. O desejo de todo projeto da web3, integração com diferentes redes e protocolos, sem abrir mão da segurança, escalabilidade e descentralização.
Enquanto muitos no setor ainda concentram sua atenção em rivalidades entre plataformas, a visão da Polkadot transcende isso, priorizando a interconexão de diferentes blockchains. A arquitetura da Polkadot, com sua segurança compartilhada e a tecnologia SPREE, posiciona-a como uma plataforma ideal para promover a interoperabilidade. Isso se torna evidente na proposta de utilizar tecnologia Zero-Knowledge (ZK) para verificar chaves públicas agregadas, permitindo uma "ponte" Ethereum segura e confiável. A capacidade de conectar diferentes ecossistemas blockchain de forma confiável e escalável apresenta oportunidades significativas para o crescimento do ecossistema Polkadot.
Mangata Finance
Um dos gargalos da indústria cripto são as bridges que operam tokens entre as diferentes redes. Somente em 2022, 2 bilhões de dólares foram drenados de bridges. A Mangata Finance pretende ser uma solução para as bridges. E ela enxergou que ela pode fazer isso sendo uma zk-Rollup do Ethereum. Mas não é uma zkEVM normal, essa Rollup terá também a infraestrutura de uma parachain da Polkadot. Assim, ela une transações rápidas e baratas, garantidas pela prova de zero conhecimento e usufrui da liquidez que está no ecossistema Ethereum.
Mas por que apenas na Ethereum? A Mangata pretende ser a solução de segunda camada (L2) que opera sobre várias blockchains de primeira camada como Ethereum, Bitcoin, Solana, Cardano, Avalanche e Cosmos. A Ethereum é apenas a primeira a receber a inovação de zk-Rollup Interchain, que combina as vantagens do zk-Rollup com a interconexão entre ecossistemas blockchain. O Multi-Rollup permitirá trocas de tokens entre diferentes blockchains de forma segura e nativa, sem a necessidade de pontes ou envolvimento de terceiros. De novo, a Polkadot estrategicamente escolhida por um projeto para se conectar com diferentes blockchains.
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KILT Protocol
Outra narrativa interessante para o futuro da web3 e que tem ganhado força dia após dia é a da identificação digital (webID). E quem levantou hype recente neste setor foi a polêmica Worldcoin, que utiliza o dispositivo Orb para capturar dados biométricos através do escaneamento da íris, o chamado Prova de Personalidade (Proof of Personhood). A grande discussão neste caso da Worldcoin está na centralização dos dados biométricos levantando suspeitas na comunidade. Países como o Quênia e a Argentina investigam as Orbs da Worldcoin enquanto a Europa ainda observa com atenção.
A KILT resolve esse problema, já que ela é uma parachain customizada para ser um protocolo de identidade blockchain para gerar identificadores auto-soberanos e descentralizados (DIDs) e credenciais verificáveis. No segundo trimestre deste ano, ela fechou uma parceria com a gigante Deloitte, líder global na prestação de serviços de auditoria e seguros. Tal parceria irá utilizar a tecnologia da KILT para emissão de credenciais digitais reutilizáveis para dar suporte aos processos de conheça seu cliente (KYC) e conheça seu negócio (KYB) da Deloitte.
Como se não bastasse, no mês passado, a KILT anunciou uma parceria com a Agência de Energia da Alemanha (DENA). A parachain de webID da Polkadot fornecerá infraestrutura para identidades digitais descentralizadas na Alemanha que serão utilizadas no projeto de transformação da matriz energética do país, tornando-a mais limpa.
Portanto, ao mesmo tempo que a Polkadot reconhece que a sua tecnologia não é largamente utilizada neste momento, já existem exemplos de grandes parcerias, não apenas como a Lido/Moonbeam, Maker DAO/Centrifuge, mas também parcerias com grandes players não nativos da web3, como a Deloitte e o governo alemão através da DENA com a KILT.
Nodle Network
A Nodle Network é um ótimo exemplo a ser citado quando criticam a Polkadot acerca da péssima experiência do usuário. Em menos de um minuto: 1) você instala a app da Nodle; 2) cria uma carteira na blockchain; 3) habilita o seu smartphone para se tornar um nó da rede; e 4) está pronto para ser recompensado por botar o seu smartphone para trabalhar na rede de infraestrutura física descentralizada (DePIN).
Na app já é possível mintar facilmente um NFT foto com a tecnologia de Prova de Autenticidade, reconhecido por gigantes como Adobe, BBC, Nikon, Canon, New York Times, Sony, entre outros. O grande diferencial da Nodle é que ela é uma rede descentralizada que utiliza a infraestrutura existente (smartphones) para conectar a blockchain ao mundo real. Ela também é outro caso de blockchain que migrou para a Polkadot porque o time não acreditava que a rede Stellar daria conta do recado. Hoje, a Nodle lidera métricas de carteiras ativas, transações diárias e hodlers do ecossistema Polkadot. Próximo de concluir a sua fase de crescimento e consolidação, a Nodle está prestes a entrar na fase de aceleração e enxerga nos Smart Missions o carro chefe deste movimento.
As narrativas
Somente nesta rápida olhada que demos em cinco redes do ecossistema, trouxemos DeFi, RWA, webID, zkRollup e DePIN em crescimento na Polkadot. Evidentemente, não são as únicas narrativas presentes no ecossistema que merecem citação. Diversos times trabalharam duro neste bear market e mesmo diante de suas realidades e projeções, continuam entregando soluções para o mundo real e com certeza é uma injustiça citar apenas cinco redes aqui. Mas também tem o outro lado, onde nem tudo são flores!
Insatisfações na comunidade
Em um ambiente como o da Polkadot que estimula a inovação tecnológica e o debate de soluções, é natural que as divergências de ideias aflorem publicamente, uma vez que tudo é transparente. O slogan da rede canária Kusama anuncia: “Espere o Caos”. Somado a isso, a própria estrutura de governança já é solo fértil para debates e, consequentemente, insatisfações. O rito da governança consiste na:
apresentação da proposta em assembleia;
discussão aberta à comunidade; e
fase final de votação on-chain entre hodlers do token DOT
Entre os pontos que neste momento despertam insatisfação na comunidade, um deles é a própria governança. Primeiro, porque herda um problema de governança de qualquer protocolo descentralizado, o impacto de baleias nas votações. Isto ainda é problema a ser resolvido pelo ecossistema web3 como um todo. Segundo, que as votações de propostas ainda são terrenos totalmente inéditos e inexplorados, não havendo referências passadas.
Recentemente, o maior canal de mídia do ecossistema, The Kusamarian, teve uma proposta aprovada para financiamento de aproximadamente um ano que deu acesso à mais 59k DOT. Embora seja um elevado valor, é interessante ressaltar que este tipo de votação é inédito no ecossistema e que existe a possibilidade de colher excelentes resultados. E sob a ótica da experimentação, pode-se dizer justo que esse acesso foi dado uma referência em conteúdos do ecossistema Polkadot.
Outro ponto de muita insatisfação na comunidade são alguns projetos do ecossistema, especialmente a Acala. Desde do incidente na pool de liquidez que gerou erroneamente 1,28 bilhões aUSD, a stablecoin do protocolo, a Acala foi da mais querida para a mais questionada do ecossistema. A insatisfação não apenas está no fato de nunca mais a aUSD recuperar o pareamento com o dólar americano, o que por si só já é motivo suficiente. Mas os movimentos estranhos e da falta de transparência do time complicaram ainda mais o ambiente que apresentaram o renascimento do projeto que propoẽ a criação de um novo token (aSEED). Recentemente, uma membra da comunidade Polkadot Brasil foi expulsa do servidor do discord após questionar o time sobre o novo token aSEED, aumentando ainda mais a desconfiança em cima do projeto.
Conclusão
Recentemente, a Polkadot atingiu um marco histórico ao entregar a tecnologia de todos os pontos do whitepaper 1.0 e inicia agora uma nova proposta de arquitetura, chamada de Polkadot Ágil. Assim, fica claro que embora a Polkadot já possui uma infraestrutura pronta e operável desde o seu lançamento em 2020, essa infraestrutura não terá a adesão massiva já no próximo ciclo uma vez que ela não está pautada na solidity, a linguagem mais utilizada nas blockchains.
Este artigo trouxe exemplos de que, mesmo sem utilizar a “tecnologia do momento”, a Polkadot acaba sendo um atrativo tecnológico. Tal destaque permite às blockchains comunicarem-se entre si, possibilitando assim atrair liquidez para o ecossistema. Mais ainda, este artigo também ilustra exemplos de como a Polkadot desenvolve tecnologicamente algumas narrativas que ganham destaque no setor e como algumas parachains já conseguiram integrar a blockchain ao mundo real.
Outra coisa que também fica claro é que não será a Polkadot em si a responsável por resolver as justas críticas sobre a experiência do usuário (UX). A missão da Polkadot é fornecer infraestrutura tecnológica através do seu modelo de negócio: vender blocos com segurança para a web3. Soluções de aplicabilidade e UX é uma responsabilidade dos projetos e redes que se instalam no ecossistema, seja na relay chain ou nas parachains. Até porque, este não é o forte de Gavin Wood.😅
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Antes de terminar, gostaríamos de lembrar que o conteúdo discutido aqui é estritamente informativo e destinado a fomentar a discussão geral. Não deve ser interpretado como recomendação financeira, fiscal ou conselho de vida para qualquer indivíduo. Encorajamos fortemente que você faça sua própria pesquisa e consulte profissionais qualificados.